5.18.2007

9 de Maio, Filatelistas solitários e taciturnos?

A Bruxinha costumava brincar com os selos quando era muito pequena. Como escrevia ontem a Maria, a Bruxinha tinha um avô bruxo de bigode e lupa, muito solitário e taciturno, reformado, que coleccionava selos. O seu escritório estava quase sempre na penumbra, as janelas escondidas por cortinados espessos. Repleto de altas estantes cheias de livros mais volumosos que listas telefónicas, havia mochos e corvos empalhados em poleiros que assustavam a Bruxinha de morte, muitos armários cheios de gavetas de todos os tamanhos. Todos os dias a Bruxinha era avisada para não mexer em nada pois cada gaveta encerrava um segredo, uma maldição, um bruxedo. Às vezes ela espreitava o avô pela fechadura da porta e lá estava ele, na escrivaninha, com os seus álbuns de selos, de lupa na mão, a mirar e a remirar cada um, a desarrumar a arrumar cada um! Nestas ocasiões ele nunca deixava a Bruxinha aproximar-se. Dizia que ela ia manchar os selos com os seus dedos cobertos de gordura e chocolate do bolo que a mãe bruxa costumava fazer! Que não conseguia segurá-los com a pinça! A Bruxinha ia-se embora toda triste. Mas um dia ela recebeu um postal no dia do seu aniversário e o envelope trazia um selo. Era um selo de muito longe, o envelope tinha viajado do outro lado do Mundo até ao país da Bruxa. O selo trazia uma estampa de um palácio de tons azulados esculpido em gelo onde viviam um rei e uma rainha com cara de pinguim. A Bruxinha gostou quase tanto do selo como do postal que o pai, que era um mago-caixeiro- viajante de profissão, lhe enviara. Tinha muitas saudades do pai, a Bruxinha. A mãe Bruxa ensinou a Bruxinha a colocar o envelope de molho em água para retirar o selo. Depois ele secou ao ar e depois de completamente seco a Bruxinha guardou-o numa caixa de fósforos vazia. Trazia-o sempre consigo porque era bonito mas também porque ele lhe lembrava o pai que andava por terras longínquas a vender acessórios para feiticeiros. Um dia o avô perguntou-lhe o que ela guardava com tantos cuidados no bolso do vestido. A Bruxinha disse-lhe que era um selo, mas que só lho mostrava se ele lhe mostrasse a sua colecção! O avô foi apanhado de surpresa e ainda hesitou. Mas a sua curiosidade de filatelista nem o deixava dormir!! Por fim desistiu de ser tão teimoso e concordou. Quando finalmente viu o selo até chorou de emoção pois o selo era maravilhoso. Percebeu que estava a ser mau para a Bruxa pequenina. E então não só lhe mostrou a sua fabulosa colecção de selos como lhe deu muitos selos que tinha repetidos. A Bruxinha passou a brincar com eles todos os dias.Sujava-os um bocadinho, é verdade, e guardava-os em caixas e latas, não em álbuns. Brincava com eles horas a fio. Eram tão coloridos e misteriosos! E o avô, antes tão distante e metido consigo, agora contava-lhe histórias sobre os sítios e as pessoas que os selos mostravam, era um compincha!!!…está na hora do Logout, e de fechar o baú das memórias!


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